Depoimentos

18 ANOS

Ligia Morgado

Faz hoje 18 anos.

Há 18 anos atrás estava longe de saber o que me esperava.

O confronto com a morte foi bem duro. Já tinha n´altura 24 anos mas não estava preparada para a tua partida. Ainda por cima uma partida que nada a fazia prever. Caíste, sem mais nem menos, em cima da cama, poucas horas antes da viagem de avião que ias fazer. Eu ajudava te a vestir e de repente… 

Nunca mais acordaste. As 24h seguintes foram sem saber o que fazer. O médico já tinha vindo a casa.

Mas já fomos tarde demais quando te levamos ao hospital.

Ainda esperaste no corredor do hospital, já meia fria, e eu chamava para te virem ver. Foste para a sala de reanimação.

Eu vi… como se vê nos filmes. E Depois ouvi como se ouve nos filmes : “porque não veio mais cedo com a sua mãe ?”.

Mas nada daquilo era um filme…

Durante estes longos 18 anos muita coisa foi acontecendo, e tive que crescer, e aceitar as mudanças que iam surgindo. A tua pesada herança instalou-se também em mim, e quando tentava viver minha vida e esquecer o passado (sem nunca te esquecer), passei a viver a tua herança em mim.

Vivi a tua doença em mim. No meu corpo que sempre foi são, pois nunca fui ligada a vícios que o pudesse prejudicar.

No entanto, esses vícios fariam menos estragos dos que o que vivo agora.

E em cada dificuldade, tua vinhas me á memória, pois contigo era precisamente igual. Cada avanço da doença era acontecimento idêntico que, embora enterrados na minha memória, eu reconhecia os sintomas. 

Mas luto todos os dias para manter-me firme e em pé porque ainda há muita coisa por resolver até chegar ao dia em que serei eu a cair na cama e não mais acordar. Esse vai ser o dia em que, para mim, será a verdadeira resposta á pergunta: “Está tudo bem?”; respondemos todos que está tudo bem, sem de facto estar pois há sempre algo que não está. Mas esse dia para mim, será a mais sincera das respostas: “Hoje está mesmo tudo bem”. E irei-te ver, finalmente.

 Quando se pensa em 18 anos, pensa-se em maioridade, momento em que levantas voo e voas, longe das asas dos teus pais. Talvez seja este o momento também para mim. 

Bem sei que não irás ler estas linhas mas entendo que o facebook está a construir o livro que não sei se terei tempo para escrever. E portanto, neste, expresso o meu desabafo e parte do meu sentimento por ti.

Se pudesse, evitava desabafar assim.

E tu se puderes, anda tomar café comigo. Temos tanto que conversar.

Ligia Morgado
29 Junho 2014
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